Quem sou eu na fila do pão que os Gen Z não comem no café da manhã?

Cris Venite
2 min readJun 22, 2021

O que você entende por uma geração? Como foram classificadas as gerações que compõem nosso quadro social? Podemos realmente considerar pessoas tão plurais dentro de um mesmo cluster sem repensar contextos socioculturais, classes, habitus, construções de gostos e de sentimentos?

Por muitas décadas, uma nova geração era aquele grupo de pessoas que sucedia a seus pais e isso dava em torno de 25 anos de diferença entre uma geração e outra. Com os avanços tecnológicos ocorridos junto aos meios de produção, com o advento da comunicação mediada por computadores e com o consequente crescimento abrupto dos meios de formação/informação/deformação digitais, este tempo tem diminuído cada vez mais e hoje temos uma nova geração a cada 10 anos. Fora isso, os limites entre uma e outra não são exatos, muitas pessoas se dizem em um limbo, não se sentem nem Gen Z nem Millenials.

O que falar do impacto identitário que isso causa nos indivíduos? O que pensar sobre jovens que recriam diariamente seus discursos de pertencimento e com isso mediam quem entra ou não em um determinado grupo? Como não traçar um paralelo da briga Gen Z x Millenials com o ageísmo absurdo que nossos maduros sofrem em uma sociedade que “morre de medo” de envelhecer? Uma sociedade que, por traz disso, evita falar sobre morte e não aborda o luto como deveria? Como iremos nos preparar para um mercado de trabalho que se modifica em uma rapidez insana, onde diversas gerações convivem, mas se compreendem cada vez menos?

Eu, curiosa que sou, fui dar uma olhada despretensiosa nos tweets da última semana. Pesquisei por “gen z millenials cringe” e fiquei fascinada com os resultados. Há muito para aprofundarmos sobre o que estamos construindo neste cenário e para pensarmos onde iremos se não pararmos para analisar o que uma briga de supostos adolescentes birrentos pode nos contar sobre a sociedade em que vivemos e sobre nós mesmos. Se você é da geração Baby Boomer ou X, por exemplo, e acha que está fora desse papo, como eu cheguei a pensar que estava, lamento dizer: estamos todos envolvidos.

Apenas para ilustrar um dos tantos threads encontrados, entre discussões sobre café da manhã, moda, hábitos de consumo, relações de trabalho e muito mais, este mini glossário de emoticons ressignificados pelos Gen Z nos dá uma aula de como a Internet não tem qualidades inerentes, já que é construída justamente nessa interação com os usuários. Trata-se de novos sentidos criados por estes “hard users” para alguns signos antes dados como certos.

Mas tenha em mente: não há certo e errado. Há pessoas. Precisamos urgentemente pensar onde estamos nestas filas geracionais emaranhadas, qual nosso papel e como participamos destas novas/velhas formas de viver e sentir.

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Cris Venite

Research Consultant e Estrategista Cultural | Mestra em Comunicação UFSM